03 fevereiro 2011

Dentro deste quarto

Sinto-me hoje como ontem.
Vejo os dias a passar-me através da janela deste quarto.
Deste quarto aparentemente efémero, onde tudo é branco, 
Onde tudo é branco numa vibração intermitente, aparentemente contínua. 
 
Todo o tempo é circular e circula, lá fora, fora das janelas deste quarto
Onde as árvores nuas me sorriem, livres.
O tempo parece circular, mas aqui, onde tudo é aparentemente branco, o tempo
Circula dentro de si mesmo, o tempo é uma pescadinha-de-rabo-na-boca,
E não sai do mesmo sítio, onde tudo, aparentemente, parece não acontecer...

Viajo, viajo dentro deste quarto para todos os mundos e tempos,
Para todos os momentos e ausências, para todas as alegrias e tristezas.
E por vezes choro, e sinto que sou livre, mesmo aqui,
Neste quarto, branco, intermitente, onde não me posso mexer,
Sei que sou livre...

Viajo e voo com as aves e migro,
Lá para onde o sol ainda é quente e o vento frio ainda não chegou.
Mas o meu corpo tem sede desse vento frio
De sentir esse frio que toda a gente diz sentir, para se poder agasalhar e ter prazer
Em se agasalhar e ter prazer em estar quente, porque lá fora,
Está esse vento frio, que as árvores nuas abraçam, serenas, sorrindo, ao sol.

O vento frio lembra-nos o calor do Verão e faz-nos ansiar por ele... e
De olhos fechados eu anseio...

Sinto-o, o calor, na minha pele, nua, e viajo,
De olhos fechados, viajo dentro deste quarto, por todas as paisagens do mundo,
Corro, rio e sou livre, sinto o vento na minha pele e canto, danço, e sou livre, o sol,
Na minha pele... nua, como um rio, que viaja, solto, pulsando de vida, correndo o mundo...
Livre... dentro deste quarto...

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