25 setembro 2006

Prefácio


O mar espumava toda a sua fúria em desejo
Força intrínseca que o alimentava nesse abismo
Entre duas venerandas taças de veneno contemplativo.

O vento uivava escarlate no horizonte do seu corpo
Em resposta nua ao seu apelo
Como passos num caminho outrora não trilhado
Por vagas de delírio interior de quem chora alegrias vespertinas
Em gestos calmos.

I

Como quem recebe uma notícia inesperada
Soltou um suspiro e levantou voo, como sempre fizera
Na doce ânsia do encontro.

Era uma manhã de Janeiro…

II

Deixou na cama o odor do seu corpo marmóreo, impoluto.

Não partira sem antes deixar a memória sua
Na memória dos que ficaram, grelando o tempo nos recônditos cantos
De memórias não cantadas.

III

Duas mãos rasgaram o passado que lhe era alheio…

IV

Não houve mágoa na partida, mas rosas Hecatinas ornavam suas asas
Abertas num terno e doce amplexo
De quem devora a vida em sorvos lentos

E na boca a vontade de mais…

V

Fizera-o sempre sem razão aparente
Pela Vontade, soberana, e o ensejo, inegável.
Fez-se Sol, Possuiu a Lua e
Frutificou os sonhos com que haveria de imacular os Homens…

VI

Voou tempos infindos
Amou aqui e ali a Terra de que se alimentava
O corpo repousava-o na memória dos que herdarão o seu Amor
Num fogo que redime os corpos e os transmuta a quatro tempos.

VII

Um dia ousou Chegar, fadado de si
E Olhou e Viu, em delírio diáfano, Circe, que se lhe entregou

O tempo parou nesse olhar.

Epílogo

Era um tempo que ninguém sabia…


19 setembro 2006

V.I.T.R.I.O.L

V erdade sem engano, certo e muito verdadeiro, como o verbo e a

palavra e o
Í gneo Poder Primeiro – A Criação desvelada – no teu corpo impoluto,
desnudado inteiro…
T eorema arcano, no silêncio dos meus dedos, perpetrado… A negro,
na tua alma.
R evelando, sem pudor, por caminhos ocultados, a virtude dessa
Obra Magna.
I gnoto deus… lá, onde a Vontade rasga o desejo que te devolve às
mãos, que teu corpo tecem
O nde a razão de te ser é a via sublimada, liberta a luz dessa alba e
velha serpe, que
L ânguida, e no teu corpo exangue enroscada, te despoja de ti e te
renasce do nada.

If You lay down now...


18 setembro 2006

Tudo acontece pela primeira vez.......


VONTADE


Cr(e)io


Entretecidos Corpos,
Tecidos.... Sonhados por entre as Mãos
sob Vontade...

Sob céus antigos e abóbadas estreladas
Sob o manto diáfano do esquecimento e do abandono
Lânguido, por entre as Mãos...

Sempre por entre as Mãos... Cr(e)io

Tudo acontece ... ... ... de maneira eterna!


(Poema à espera de ser pintado...)

12 setembro 2006

Nigredo


Qual o propósito do caminho senão atingir a verdadeira Vontade?

Decompomo-nos vãos, ensejando alcançar a misericórdia dos deuses
E mais não fazemos que olvidar a essência que deixámos espalhada
Na infância da memória e no lento desabrochar de passos para um vazio de alma…
Infecundos, invocamos tormentas e açoitamos a pele dos corpos alugados, a um ego inominado, num medíocre torpor de quotidiana insanidade, como se possível fosse
Emprenharmos da sapiente lucidez da Vontade,
Apenas pelo gesto mesquinho do desejo… e mais não atingimos que
Um vão querer, caprichoso e mundano, onde exultados, exortamos
Impropérios vazios, aos transeuntes que cruzam os nossos dias,
Como portentos detentores da verdade.
Por companheiros, temos o Sol e a Lua, alheios ao nosso querer
Mas invictos na sua presença… e caminhamos.
Caminhamos sós, como sós podem ser os passos
Anónimos, decalcados numa qualquer calçada do caminho.
Descalços, vestidos de máscaras, despidos do sangue da ancestralidade
Caminhamos, cegos.
E assim cegos passamos pela Luz das Estrelas…
As guardiãs desse inevitável segredo: A compaixão atrai o desprezo
E só a Essência atrai a Vontade.