22 novembro 2006

Tecido incerto...


Teço em raios de sol matutino, os meus sonhos mais ausentes

De ti perdidos, solitários e descrentes
Por meandros labirínticos, por desertos infinitos,
Por oníricas paisagens de vento…

Teimo entretece-los, por entre fios de orvalho nacarado
De brilho lunar, olvidado na aurora dos dias
Que passamos ao acaso…

Que arautos proclamam os deuses?
Que intentos? Que desejos?

Ensejos prementes, esses sonhos, esses cantos
Esses fios enleados nos sonhos que sonhados
Não passam nas areias do tempo…
Não mais que palavras, não mais que vontades…

Que intentos? Que desejos? O que teço?
Neste inspirado instante de ardor, que clamo e ordeno em mim
Como um fogo criador?

Que intentos? Que desejos? Quando teço com fervor,
De pérolas hecatinas, tão cristalino alvor?

Quando pela manhã te entrego, em gestos indomados
Esse tecido incerto, de pedaços de Amor... Inesperados...

10 novembro 2006

Desencontros


Todas as ruas são paralelas

Todas as ruas, paralelas, contêm a possibilidade
Numa perpendicular

Todas as ruas são anónimas
Todas as ruas, anónimas, contêm a possibilidade
Numa perpendicular

Todas as ruas são vazias
Todas as ruas, vazias, contêm a possibilidade
Numa perpendicular

Todas as ruas se repetem
Todas as ruas apagam a tua identidade, ao passares
Numa perpendicular

Todas as ruas que percorro
Todas as ruas que morro, me apagam
Numa perpendicular

Todas as ruas são silêncio
Todas as ruas são ausência
Mas todas as ruas que invento, ao passar, cruzam as tuas
Numa perpendicular...

03 novembro 2006

Crepúsculos de Esquecimento


Exorto os caminhos do sangue

Em crepúsculos de esquecimento
Em espinhos daninhos… os pés rasgados de dor.
Um estertor convulsivo, de silvas na pele
Na carne e nos nervos lacerados
Por sujas mãos de devaneio compulsivo
Num súbito desejo, fútil e cheio de nada
Construído em muros de insanidade
Que se erguem neste infinito estar aqui…
Sedentos, paridos de sentidos e
Velados, perscrutam
No intento de sentir-absorver essa verdade.
Mas, sempiterna e permanente, ela se oculta
Expectante, no rasgar dos véus
Dessa hipócrita-envolvente-ambiguidade,
De vencer sem pudor ou receio de morrer
Esses ardis furtivos da vaidade
Em laivos de permanente horror
E destruir com sede essa Vontade,
Parida, das entranhas da carne…
Mas num instante último, que recordo, escolher
Desvelar lentamente e com prazer, em enigmas seculares
O que, no lugar da memória, não é mais que uma história
Ou um segredo por contar.